sexta-feira, 27 de junho de 2008

Fim?

No principio, o único lugar onde te mostravas presente era em meus sonhos, e isso me fazia feliz. O tempo passou, porém, e ter-te apenas em sonhos não me era mais o bastante, precisava ver-te.

E assim foi.

O tempo continuou passando, e ter-te em memória agora também não era mais suficiente, precisava poder te tocar, sentir tua pele, beijar teus lábios.

E assim foi.

Mas o tempo, naturalmente, fez com que tocar-te fosse não mais o bastante.

Precisei amar-te.

E quando pensei que amar me ja era o bastante descobri precisar fazer-te feliz, precisar verdadeiramente de ti em minha vida.

Agora nada mais poderia se fazer necessário afinal, ja tinha tudo!

Chego em casa, deito em minha cama, sorriso no rosto.

Silencio.

Minutos passam, e percebo então minha sina.

Sinto agora saudades.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Devaneios Pronominais

Acordei sem vós, e em vão tentei chamar teu nome. Chorei um choro seco, choro calado.

Quebrada, segurei na palma da mão a casca de nós que outrora me envolvera, aquele pouco de ti, que me fez esquecer a existência de terceiras pessoas.

Não há mais mim e ti. Tu és tu, eu sou eu. Eu sou nada.

Volto à minha solidão, ao mundo onde eu sou, eu és, eu é, eu somos, eu sois, eu são.


Eu fui. Eu era. Eu queria ser.

98% Álcool + 2% Ácido Nítrico

Meus insensíveis dedos gelados percorrem curiosos tua pele macia e quente, descrevendo retas, rotas, escrevendo notas tortas.

Meus olhos dissecam tua íris, buscam em tua pupila a semente de teu ser.

Teus cabelos compridos põem-se a dormir sobre teu colo, que se move lenta e suavemente a cada ciclo de tua respiração, para cima, e para baixo.

Posso sentir tua mão trêmula que acaricia minha nuca, ver teus dentes morderem levemente teu lábio inferior, dançando por entre teus caninos e fascinando-me.

Horas passam, e a sentença é finalmente proferida.

"Preciso ir."

Recém acordado de meu estado contemplativo, demoro a digerir tais palavras, e preparo minha despedida. Sugiro novo encontro, quem sabe no dia seguinte, quem sabe com a vinda de uma nova lua.

"Preciso ir... de verdade."

Levantas-te vagarosamente, olhos inundados. Quebra-se a casca de nós, e o frio me envolve. Teus passos indecisos abrem, um a um, um abismo, uma porta para nunca mais.

Meus insensíveis dedos machucados percorrem dolorosamente teu braço duro e frio, descrevendo curvas e voltas, escrevendo notas vivas sobre coisas mortas.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Make you happy

Horas a fio passei hoje a deleitar-me com pensamentos de mais variados tipos e, dentre estes, um chamou-me fortemente a atenção, imagino que pelos acontecimentos anteriores à minha tarde de sofá, smooth jazz, e muita reflexão.

A razão me intriga. Não descobri ainda sua função, e pude mais ainda nas horas passadas constatar que até o presente momento não me trouxe muita vantagem a mesma.

Ilumina-nos a razão, enquanto as emoções nos cegam. Porém, nem tudo deve ser visto, e mais, certas coisas só podem ser vistas quando nos cegamos, sendo estas as mais belas.

Devíamos aprender a ver de verdade, pois não o sabemos. Tolos, não percebemos que precisamos ficar cegos para ver, assim como devemos aprender a ouvir o silêncio, a melodia maravilhosa do silêncio, pois este sim aguarda, quieto, aquele alguém que saiba ouvi-lo, e para quem contará as coisas mais íntimas, aquelas que não expressamos com palavras, mas com o olhar.

Mas voltando à razão...

Diversas vezes peguei-me sobrepondo a razão à emoção, e sempre me pareceu algo perfeitamente normal, afinal, somos seres evoluídos, racionais. Nada mais razoável que seguir o dom que apenas nós temos, certo?

Parei.

Lembrei-me dos momentos que haviam antecedido minha busca por respostas. Até que ponto, pensei, a razão é um dom, se nos priva de expressarmos nossos sentimentos, se constantemente nos priva de sermos nós mesmos, de amar?

Seria a razão uma maldição, e não um dom?

Meus instintos mandaram-me parar por um momento. Era informação demais.

Passei a mão na guitarra, e puxando-a de encontro ao meu peito, pude sentir meu coração bater, tão calmo agora, ritmado. Em nada se assemelhava ao coração outrora arrítmico, batendo nervoso, sentindo medo, paixão.

Havia conseguido...

A razão não me teria deixado fazê-lo, afinal, quieto, muito menos tinha a perder.

Toquei um acorde. Senti a vibração das cordas da guitarra percorrerem meus dedos, meus braços, meu corpo todo, chegando até os dedos do pé e os fios de cabelo.

O som era tão lindo, até agora não sei que acorde era, porém sei que não foi meu cérebro quem guiou meus dedos até as posições que tornaram possível tal som. Nunca conseguiria um som bonito como aquele, se quisesse.

Foi a emoção, música é emoção. Muitos me perguntam o que é Feeling, que tantos comentam, em se tratando de guitarra. Nunca soube explicar. Feeling não se explica, é emoção, se sente.

É a emoção que faz as coisas bonitas, a razão apenas as destrói, os instintos criam as coisas bonitas, a tal inspiração. A razão? Cria coisas práticas.

Sempre tive amor à música, e sempre executei meus movimentos e pensamentos com relação à mesma movido por meus sentimentos.

Por que então ser diferente com minhas outras paixões?

E aquele acorde mexeu comigo, com meus órgãos, minha pele, meus fios de cabelo, que o vento balançava ao som de novos tempos.



Esta é uma versão levemente modificada deste texto que escrevi em Outubro de 2007.