sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Clones, cópias, sósias e outras aberrações.

E acordo todo dia tarde, apenas para me olhar no espelho e ver que nada mudou. Os medos são os mesmos, a face cheia de imperfeições, o corpo frágil, a mente frágil, a solidão inerente a meu ser.

Tento me confortar com a imagem no espelho, troco palavras em vão, sabendo que não haverá resposta nem para minha mais simples pergunta.

"Eu não entendo." penso, desesperado. Meus olhos fixam os do outro como quem busca na profundeza da alma a esperança.

Ele não responde, desvia o olhar. A princípio penso tratar-se de má vontade... mas percebo rapidamente a verdade.

Ele tampouco sabe. A resposta não está em mim, e ele sou eu, eu e ele somos nós. E a resposta está exatamente nessa palavra... "nós".

Encosto a palma da mão aberta na fina camada de material amorfo que me separa de mim mesmo. Sinto-me uno então, à medida que sinto o calor de sua mão transferindo-se à minha, o calor de sua alma.

E sinto-me pronto. Ou deveria dizer "sentimo-nos"? Seja como for, estamos prontos, para acordar amanhã e não precisar de espelhos para ver que tudo mudou, e para poder mostrar ao mundo de hoje que aquele que conheceram é mais, muito mais, do que apenas mais um.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Cinza.

A sala vazia, o copo vazio, mente vazia.

Perder tanto em tão pouco tempo é algo dificil de se explicar... é dificil explicar o que se sente quando chegar em casa e sair de casa, dormir e acordar, noite e dia se tornam a mesma coisa...

É dificil explicar algo que não se pode sentir... pois na verdade é justamente isso, ausência de sentimento. Na ausência de sentimento... tudo vira cinza, as cores se vão, e junto com elas, as diferenças. São as cores que criam as diferenças.

Num mundo onde tudo é cinza... não há vida e morte, dor e prazer, música e silêncio... tudo é indiferença.

Na indiferença me perco, não me importa mais se meu dia terá uma hora de prazer que será lembrada para sempre, ou 24h de sofrimento que se perderão na alvorada, só é preciso que se caminhe, sem esperar por nada, ou ninguem.

Não há mais Verde, Azul ou Cor de Mel.

Restam apenas cinzas.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Verde, azul, cor de mel.

E ele caminhava pelas ruas vazias daquela enorme cidade cardíaca. Tanto sangue ali derramado o assustava, mal sabia ele quantas batalhas haviam sido travadas.

O suor lhe escorria a face, quente, ignorando o cortar gélido do incessante vento que assombrava aquela aconchegante cidadezinha. Havia, porém, uma casa dentre todas, uma bela mansão, por onde o vento não ousava passar, desviando seu curso de forma abrupta. A passos curiosos moveu-se, buscando descobrir afinal o que poupava aquele imóvel, dentre todos os daquele vilarejo, de sofrer nas mãos do frio.

Seus pés manchados de sangue estranhamente não sujavam o chão em lugares onde ja não houvesse outrora o rubro líquido, e mesmo um tanto confuso, caminhou decididademente por aquele beco estreito.

Chegara à porta da mansão.

Hesitou por alguns instantes. Olhou para trás, e pôde ver apenas as paredes de um cubículo, no qual se encontrava. Paredes, teto, chão, todos pulsavam, e fechavam-se aos poucos, forçando-o a abrir aquela única porta a sua frente.

Girou lentamente a maçaneta e, olhos fechados, atravessou aquele portal. Sentiu um calor inexplicável, aconchegante calor. Uma voz o chamava. Abriu os olhos.

Verde.

Azul.

Cor de mel.


E desapareceu, então, naquele infinito de sensações.

domingo, 31 de agosto de 2008

E pararia, por tudo.

E a passos lentos me movo, porque se faz necessário apreciar a paisagem... e a passos lentos me movo, porque se faz necessário que não chegue agora aonde desejo.

Sento-me naquele banco e passo horas a olhar o mar, este que não mais cessa seus encantos. Olho para o lado e vejo o banco vazio, sinal de que a ausência é verdadeira, visto que não mais sinto o calor daquele corpo em meus braços, ou o perfume roubado em meio a risadas.

Levanto daquele banco e percebo-me não mais à beira-mar, mas agora naquele gramado de outrora. Por ironia este gramado me lembra certo terreno na cidade natal de minha mãe, onde sentei por vezes a pensar aqueles meus pequenos pensamentos de criança despreocupada, nunca imaginando como a vida mudaria em tão pouco tempo...

E caminho... passos lentos... lembranças no bolso e mão aberta, mente aberta...

Cada passo se torna menor que o anterior, e percebo por minhas pegadas então como ainda sou pequeno... fico feliz...

Percebo que é necessário que se caminhe devagar... apreciando a paisagem, aprendendo, vivendo cada momento sem correr, sem querer crescer...

Cada momento é único. Alguns não voltam mais e outros não devem voltar, não até que a última folha do outono caia , e o inverno traga o frio. Seremos grandes então, mas o frio nos fará tremer, como faz hoje o medo, e sentaremos juntos abraçados e envoltos em nossos cobertores de experiências a assistir o maior e mais intenso filme de todos, o filme da vida.

E pararia, por tudo.



Voltei a escrever textos.

Agradeço pela inspiração para este texto, e por muito mais, mas isso são outras palavras...

sábado, 16 de agosto de 2008

Não?

E se essa solidão te acompanhasse... pelo resto da vida?


Acordei e lavei o rosto, vesti meu jeans preto e calcei meu all star branco. Dirigi-me à janela, com medo de deixar aquele quarto. Podia ouvir tua respiração vindo da cama aonde dormias, seminua, esperando que por ventura meus beijos e carinhos te acordassem para mais uma cena de amor, tal quais as que pintava eu em sonhos eternos de sonos etéreos.

Não que não me fosse prazeroso suprir tal demanda de profundo ardor, entretanto não senti em tua pele uma vontade de entregar-te a meus cuidados, por mais que o ar que saisse de tua boca me dissesse o oposto.

Tomei um copo d'água, e sentei-me ao pé da cama. Estavas ao meu lado agora, meu amor. Todas as noites as quais minha memória alcançava, todas as cores de roupas, as meias, as toucas, tudo voltava à minha mente, em um turbilhão de imagens, sons e sentimentos que me atordoou por alguns minutos.

Precisava trabalhar, seria hoje a gravação daquele novo single, o qual havia composto em uma tarde de ressaca, depois daquela festa de comemoração do lançamento de meu novo CD, festa na qual pedi tua mão em casamento, e na qual pela primeira vez te vi chorar.

E o medo me consumiu, novamente. Ela me esperava lá fora... todo dia estava ela à minha espera, porque suprisse eu suas demandas, as quais tua pele me negava. Era assim que passava minhas tardes, junto a ela.

Despia-me e buscava tudo o que de mais íntimo tivesse para tocar com seus dedos longos e gelados, abraçava-me e beijava-me na frente de todos, os quais fingiam não perceber o que acontecia ao seu redor.

E roubava meu coração todos os dias, porque te sentisse eu distante, deitada em tua cama, seminua, respirando lentamente o ar que nas horas seguintes compartilharíamos abraçados após mais uma noite perdidos em um mar de cobertores e travesseiros, tantos que mal se distinguiria o fim da cama do começo da cozinha.

Abraças-me pelas costas, encontro-me ainda sentado aos pés da cama. Beijas-me a nuca e desejas-me uma boa gravação. Beijo teus lábios e me levanto lentamente. Com a mão direita seguro meu instrumento, finalmente o MEU instrumento. Abro a porta e lá está ela. Olho para trás e te vejo sentada na cama, lendo uma reportagem sobre a intensa ocorrência de melanomas em povos da áfrica. Uma lágrima escorre em meu rosto.

E ela me abraça e me puxa, fazendo desaparecer a visão de ti que tanto me aquece por dentro. Me dá bom dia e diz que me ama, e que nunca me abandonará.

Pelo resto de minha vida.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Engraçado...

É engraçado encontrar em outras palavras a resposta de perguntas que nunca me fiz, porém o mais engraçado é achar nas minhas palavras as respostas às respostas daqueles que nunca me fizeram perguntas.

E foi assim, lendo pensamentos de outros que parafrasearam outros, que encontrei hoje a pergunta a uma resposta que nunca pensei botar em palavras, até pelo fato de não ser uma resposta concreta, e sim mais uma pergunta, de palavras que não sei se são minhas, ou de outros, ou sentimentos que não podem ser expressos em palavras, muito menos respondidos por outros, que nem ao menos se perguntaram assim como o fiz.

Como não pretendo chegar a conclusão alguma, exprimir-me-ei por meio destas minhas palavras de ninguém, resposta a todos os que se perguntam, e reflexão a todos que não se perguntam.

Amor é sim um egoísmo, e é sim regido por interesses particulares.

Posso parecer rude falando desta maneira do amor, mas é assim que o vejo. Desculpem-me os mais tradicionais, mas sou sim egoísta, e meu amor é regido por interesses puramente particulares.

Continuarei sempre assim, não importa o quanto me julguem, o quanto me digam que não é assim que deve ser.

Amo por interesses particulares, porque todos os seus sejam realizados, busco ser interessante, porque encontres nesta particularidade a felicidade. Vivo por ti e não abro mão disso, e não me venham dizer que deve-se pensar no coletivo, ou em mim mesmo, não ligo para outros.


Egoísmo puro.

Aprender a viver

Sinto que não importa aonde vá, não chego a lugar algum. No fundo não importa mesmo aonde eu vá, não sei aonde quero chegar, afinal.

Não sei se quero chegar a algum lugar, talvez para mim a graça da vida esteja realmente em vagar, percorrer os caminhos, observar as paisagens, ouvir os sons que me envolvem e simplesmente viver, amar, ser.

Nunca entendi o trabalho, a escola, muito menos o ato de estudar. Sou a favor de uma escola sem estudo, não pensem mal de mim, não é uma questão de preguiça, ou de irresponsabilidade, apenas não acredito que o estudo como existe seja a melhor forma de aprender, de entender.
Horas a fio debruçado sobre livros infindáveis, fórmulas mirabolantes, datas, cálculos... aonde me levaram estas horas? Desculpem a sinceridade, mas a NADA produtivo. Faço questão de esquecer.

Penso que não deveriam existir aulas de física, aulas de química, aulas de história, e tantas subdivisões com as quais convivemos grande parte da vida, sem nem ao menos saber seu motivo.
Ao invés de uma hora aula de matemática, cheia de fórmulas e conceitos, por que não uma aula de "apreciação da matemática", aonde aprenderíamos não a matemática, a qual não se prova de grande valia no dia a dia da maioria das pessoas, mas observaríamos o desenvolvimento do pensamento matemático e sua evolução pela história, o desenvolvimento do raciocínio lógico, este sim de grande valia no viver?

Horas a fio jogado na cama, pensando, amando, ouvindo música, apenas analisando as coisas ao meu redor, sem preocupação alguma... essas sim, essas não consigo esquecer, pois foram as horas que formaram a pessoa que sou, e a cabeça que tenho. Talvez seja minha mente um tanto deturpada da realidade aonde estou inserido, ou talvez seja a realidade em que estou inserido um viver torpe, uma escola da vida, aonde a única coisa que se aprende, é como "não viver".



Sinto-me perdido, sem rumo. Sinto-me vazio, de saco cheio.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Meia noite

Sonhei contigo...
Em sonho, eras minha,
minha e de mais ninguém.
Tua pele era a nossa e meus olhos teus fiéis seguidores,
percorrendo teus fios de cabelo e teus pés
E ao revés escapavas-me à vista,
porque por sorte me mantivesses perdido em teus suaves beijos,
ao passo que Morfeu abraçava-nos lentamente,
acordados agora para um novo dia,
no qual poderia eu novamente inventar-te minha,
e somente minha.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sincopado

Em música, síncope é uma característica rítmica caracterizada pela execução de uma nota tocada em um tempo fraco que se prolonga até o tempo forte do compasso, criando um deslocamento da acentuação rítmica.

A síncope é coisa que parece torta. Se não bem acentuada, muito marcada, é até dificil não achar que é um erro, uma arritmia. Porém... a síncope quando bem executada traz uma riqueza musical tremenda, foge do óbvio, chama a atenção.

É impossível ouvir uma síncope e não virar a cabeça pra ver o que está acontecendo, ela é mágica, nos hipnotiza.

Meu coração bate sincopado, coração torto, coração pisado. Meu coração bate cruzado, porque te hipnotize, porque te levante, te encante.



"Improvise is a little bit like magic, its never really completely true, but you'll never say it's not."

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Fim?

No principio, o único lugar onde te mostravas presente era em meus sonhos, e isso me fazia feliz. O tempo passou, porém, e ter-te apenas em sonhos não me era mais o bastante, precisava ver-te.

E assim foi.

O tempo continuou passando, e ter-te em memória agora também não era mais suficiente, precisava poder te tocar, sentir tua pele, beijar teus lábios.

E assim foi.

Mas o tempo, naturalmente, fez com que tocar-te fosse não mais o bastante.

Precisei amar-te.

E quando pensei que amar me ja era o bastante descobri precisar fazer-te feliz, precisar verdadeiramente de ti em minha vida.

Agora nada mais poderia se fazer necessário afinal, ja tinha tudo!

Chego em casa, deito em minha cama, sorriso no rosto.

Silencio.

Minutos passam, e percebo então minha sina.

Sinto agora saudades.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Devaneios Pronominais

Acordei sem vós, e em vão tentei chamar teu nome. Chorei um choro seco, choro calado.

Quebrada, segurei na palma da mão a casca de nós que outrora me envolvera, aquele pouco de ti, que me fez esquecer a existência de terceiras pessoas.

Não há mais mim e ti. Tu és tu, eu sou eu. Eu sou nada.

Volto à minha solidão, ao mundo onde eu sou, eu és, eu é, eu somos, eu sois, eu são.


Eu fui. Eu era. Eu queria ser.

98% Álcool + 2% Ácido Nítrico

Meus insensíveis dedos gelados percorrem curiosos tua pele macia e quente, descrevendo retas, rotas, escrevendo notas tortas.

Meus olhos dissecam tua íris, buscam em tua pupila a semente de teu ser.

Teus cabelos compridos põem-se a dormir sobre teu colo, que se move lenta e suavemente a cada ciclo de tua respiração, para cima, e para baixo.

Posso sentir tua mão trêmula que acaricia minha nuca, ver teus dentes morderem levemente teu lábio inferior, dançando por entre teus caninos e fascinando-me.

Horas passam, e a sentença é finalmente proferida.

"Preciso ir."

Recém acordado de meu estado contemplativo, demoro a digerir tais palavras, e preparo minha despedida. Sugiro novo encontro, quem sabe no dia seguinte, quem sabe com a vinda de uma nova lua.

"Preciso ir... de verdade."

Levantas-te vagarosamente, olhos inundados. Quebra-se a casca de nós, e o frio me envolve. Teus passos indecisos abrem, um a um, um abismo, uma porta para nunca mais.

Meus insensíveis dedos machucados percorrem dolorosamente teu braço duro e frio, descrevendo curvas e voltas, escrevendo notas vivas sobre coisas mortas.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Make you happy

Horas a fio passei hoje a deleitar-me com pensamentos de mais variados tipos e, dentre estes, um chamou-me fortemente a atenção, imagino que pelos acontecimentos anteriores à minha tarde de sofá, smooth jazz, e muita reflexão.

A razão me intriga. Não descobri ainda sua função, e pude mais ainda nas horas passadas constatar que até o presente momento não me trouxe muita vantagem a mesma.

Ilumina-nos a razão, enquanto as emoções nos cegam. Porém, nem tudo deve ser visto, e mais, certas coisas só podem ser vistas quando nos cegamos, sendo estas as mais belas.

Devíamos aprender a ver de verdade, pois não o sabemos. Tolos, não percebemos que precisamos ficar cegos para ver, assim como devemos aprender a ouvir o silêncio, a melodia maravilhosa do silêncio, pois este sim aguarda, quieto, aquele alguém que saiba ouvi-lo, e para quem contará as coisas mais íntimas, aquelas que não expressamos com palavras, mas com o olhar.

Mas voltando à razão...

Diversas vezes peguei-me sobrepondo a razão à emoção, e sempre me pareceu algo perfeitamente normal, afinal, somos seres evoluídos, racionais. Nada mais razoável que seguir o dom que apenas nós temos, certo?

Parei.

Lembrei-me dos momentos que haviam antecedido minha busca por respostas. Até que ponto, pensei, a razão é um dom, se nos priva de expressarmos nossos sentimentos, se constantemente nos priva de sermos nós mesmos, de amar?

Seria a razão uma maldição, e não um dom?

Meus instintos mandaram-me parar por um momento. Era informação demais.

Passei a mão na guitarra, e puxando-a de encontro ao meu peito, pude sentir meu coração bater, tão calmo agora, ritmado. Em nada se assemelhava ao coração outrora arrítmico, batendo nervoso, sentindo medo, paixão.

Havia conseguido...

A razão não me teria deixado fazê-lo, afinal, quieto, muito menos tinha a perder.

Toquei um acorde. Senti a vibração das cordas da guitarra percorrerem meus dedos, meus braços, meu corpo todo, chegando até os dedos do pé e os fios de cabelo.

O som era tão lindo, até agora não sei que acorde era, porém sei que não foi meu cérebro quem guiou meus dedos até as posições que tornaram possível tal som. Nunca conseguiria um som bonito como aquele, se quisesse.

Foi a emoção, música é emoção. Muitos me perguntam o que é Feeling, que tantos comentam, em se tratando de guitarra. Nunca soube explicar. Feeling não se explica, é emoção, se sente.

É a emoção que faz as coisas bonitas, a razão apenas as destrói, os instintos criam as coisas bonitas, a tal inspiração. A razão? Cria coisas práticas.

Sempre tive amor à música, e sempre executei meus movimentos e pensamentos com relação à mesma movido por meus sentimentos.

Por que então ser diferente com minhas outras paixões?

E aquele acorde mexeu comigo, com meus órgãos, minha pele, meus fios de cabelo, que o vento balançava ao som de novos tempos.



Esta é uma versão levemente modificada deste texto que escrevi em Outubro de 2007.