sábado, 16 de agosto de 2008

Não?

E se essa solidão te acompanhasse... pelo resto da vida?


Acordei e lavei o rosto, vesti meu jeans preto e calcei meu all star branco. Dirigi-me à janela, com medo de deixar aquele quarto. Podia ouvir tua respiração vindo da cama aonde dormias, seminua, esperando que por ventura meus beijos e carinhos te acordassem para mais uma cena de amor, tal quais as que pintava eu em sonhos eternos de sonos etéreos.

Não que não me fosse prazeroso suprir tal demanda de profundo ardor, entretanto não senti em tua pele uma vontade de entregar-te a meus cuidados, por mais que o ar que saisse de tua boca me dissesse o oposto.

Tomei um copo d'água, e sentei-me ao pé da cama. Estavas ao meu lado agora, meu amor. Todas as noites as quais minha memória alcançava, todas as cores de roupas, as meias, as toucas, tudo voltava à minha mente, em um turbilhão de imagens, sons e sentimentos que me atordoou por alguns minutos.

Precisava trabalhar, seria hoje a gravação daquele novo single, o qual havia composto em uma tarde de ressaca, depois daquela festa de comemoração do lançamento de meu novo CD, festa na qual pedi tua mão em casamento, e na qual pela primeira vez te vi chorar.

E o medo me consumiu, novamente. Ela me esperava lá fora... todo dia estava ela à minha espera, porque suprisse eu suas demandas, as quais tua pele me negava. Era assim que passava minhas tardes, junto a ela.

Despia-me e buscava tudo o que de mais íntimo tivesse para tocar com seus dedos longos e gelados, abraçava-me e beijava-me na frente de todos, os quais fingiam não perceber o que acontecia ao seu redor.

E roubava meu coração todos os dias, porque te sentisse eu distante, deitada em tua cama, seminua, respirando lentamente o ar que nas horas seguintes compartilharíamos abraçados após mais uma noite perdidos em um mar de cobertores e travesseiros, tantos que mal se distinguiria o fim da cama do começo da cozinha.

Abraças-me pelas costas, encontro-me ainda sentado aos pés da cama. Beijas-me a nuca e desejas-me uma boa gravação. Beijo teus lábios e me levanto lentamente. Com a mão direita seguro meu instrumento, finalmente o MEU instrumento. Abro a porta e lá está ela. Olho para trás e te vejo sentada na cama, lendo uma reportagem sobre a intensa ocorrência de melanomas em povos da áfrica. Uma lágrima escorre em meu rosto.

E ela me abraça e me puxa, fazendo desaparecer a visão de ti que tanto me aquece por dentro. Me dá bom dia e diz que me ama, e que nunca me abandonará.

Pelo resto de minha vida.

2 comentários:

~Lilah disse...

Olha... muito bom seu texto. Extremamente envolvente.

Você teve uma visão do futuro ou o que? Virou profeta?

xDD

Parabééééééns!!!

~Lilah disse...

Li novamente. Fez mais sentido, realmente.

É... estamos no mesmo barco, querido.

Preciso dizer mais alguma coisa?

beijos!